sábado, 22 de novembro de 2014


O Viva Retrô, horário de novelas que o blog sugeriu para o Canal Viva, se revelou um grande sucesso! O texto sobre Amor com Amor se Paga, do meu amigo Zé Filho, bateu recorde de visualizações, tão logo fora postado. Hoje, resgatamos outra trama das 18h, mas desta vez dos anos 70. Tenho certeza que vocês também adorariam rever este sucesso...


Epa, mais vale uma xepa na tela da gente...
Apenas o talento de Yara Côrtes já vale reprise da trama no Canal Viva

Cresci ouvindo elogios à Dona Xepa, por parte de familiares e amigos. Tão logo tive a oportunidade, busquei todo o material possível sobre a trama de Gilberto Braga, adaptada a partir da peça teatral de Pedro Bloch. Nunca me entusiasmei, no entanto, com a atualização da trama, Lua Cheia de Amor, nem com a nova adaptação do texto original, Dona Xepa, exibida na Record. O filme homônimo, porém, se revelou uma grata surpresa. Alda Garrido, que já havia imortalizado a personagem no teatro, vive Dona Xepa com maestria. Ainda assim, sonho em ver, um dia, o trabalho de Yara Côrtes, dando vida a esta que, sem sombra de dúvida, é mãe abnegada mais famosa da teledramaturgia brasileira. No Viva, já tivemos a oportunidade de conferir o talento de Yara em Top Model, História de Amor e A Viagem, ainda no ar. Mas nenhuma dessas atuações foi capaz de superar o papel que a consagrou.

Dona Xepa não foi um marco apenas na vida de Yara Côrtes. A novela simbolizou um novo tempo no horário das 18h. Era a primeira novela contemporânea na faixa, desde que o horário fora fixado, em 1975. Também a primeira a abandonar as adaptações literárias, apostando em um texto concebido originalmente para o teatro. E, até aquele momento, foi a mais ousada das novelas do horário. Cenas na piscina, com mocinhas de biquíni e mocinhos com um copo de uísque na mão, tomaram o espaço até então ocupado por fazendas coloniais e vestidos pesados. Os ideais de libertação dos escravos eram substituídos pelos intentos de ascender profissional e socialmente.

A novela, no entanto, tinha um pezinho no passado. Dona Xepa começa em fevereiro de 1975. Feirante, Xepa, ou Carlota Soares da Costa (Yara Côrtes), fora abandonada pelo marido há tempos, e se viu obrigada a trabalhar dia e noite, para que nada faltasse aos filhos. Conseguiu dar aos dois, Edson (Reynaldo Gonzaga) e Rosália (Nívea Maria), educação e regalias acima das que tivera quando na idade deles. Imbuída das melhores intenções, Xepa almeja alcança-los intelectualmente, mas não obtém sucesso em suas investidas. Às voltas com seus problemas financeiros, tem dúvidas se deve pagar sua licença de feirante ou a mensalidade do curso pré-vestibular do primogênito. Ou seja: ou ela trabalha ou o filho estuda. Enquanto a mãe queima os neurônios em busca de uma solução, Edson pensa em sair de casa, passando a dividir o aluguel com os amigos Ronaldo (Nardel Ramos) e Daniel (Edwin Luisi), moço boa-praça, eterno apaixonado por Rosália. Arrivista, a moça pretende se afastar o quanto for possível de suas origens humildes. E para atingir seus intentos, mira no editor de revistas Ivan (João Paulo Adour).

Ivan é tão ambicioso quanto Rosália. Funcionário da editora Becker, pertencente à família que ostenta tal sobrenome, ele pouco se importa com a suburbana. Só tem olhos para Heloísa (Fátima Freire), a filha dos patrões, Henrique (Ênio Santos) e Isabel (Ida Gomes, outra atriz que deixou saudades), a quem pretende conquistar, precipitando sua escalada dentro do grupo editorial. Rosália, em sua busca pela riqueza de modo fácil, também esbarra na família Becker. Conhece Otávio (Cláudio Cavalcanti), primogênito de Henrique e Isabel, e inicia um romance com ele. O rapaz, no entanto, não revela sua condição financeira, o que a leva a crer que ele é tão ou mais pobre do que ela e, consequentemente, terminar o romance. Manter sua fortuna camuflada ajuda Otávio a afugentar interesseiras; sempre rechaçou quem se aproxima dele com interesse no patrimônio de sua família. Obcecado por conquistas difíceis, Otávio despreza a riquinha Gisa (Patrícia Bueno), que lhe parece muito óbvia, e cai de amores por Helena (Ísis Koschdoski), que lhe não dá a mínima por ser absolutamente apaixonada por Edson, seu namoradinho de infância, que a ampara no momento em que ela perde o pai, Saraiva (Fregolente).

Desprezada por Ivan e por Otávio, Rosália parte em busca de outro bom partido. O eleito é Heitor (Rubens de Falco), que corresponde às investidas da moça, se revelando um completo apaixonado. Rosália o ludibria, negando sua origem, e por pouco não é descoberta por Edson, que, por entender as razões da irmã de querer fugir da superproteção da mãe, consente em esconder suas mentiras. Edson também está em busca do seu lugar ao sol e tem dúvidas se lá há espaço para a abnegada Xepa. Após ganhar um concurso de contos, ingressa no fechado círculo de intelectuais cariocas, onde é tratado como um escritor em ascensão, e realiza seu sonho de ir morar sozinho, acreditando que já não é de bom tom morar na vila pobre em que vive com a mãe não é. Edson também procura descobrir o paradeiro do pai. Investiga Corina (a ótima Zeni Pereira), feirante amiga de Xepa, e descobre que o pai trabalhara em uma rádio, onde consegue informações que dão conta da data de seu desaparecimento. É desta forma que ele passa a pressionar a mãe para descobrir o que acontecera com Joel (Castro Gonzaga), o marido que se escafedeu sem dar explicações.

Após a decepção com a saída do filho de casa, e os desentendimentos causados pelo esposo sumido, Xepa enfrenta a rejeição de Rosália. Prometendo lua-de-mel na Europa, Heitor consegue leva-la ao altar, sem que ela descubra sua verdadeira condição financeira. Milionário de berço, Heitor viu o pai, Raul Pires Camargo (Antônio Patiño), perder toda a sua fortuna, o que leva Glorita (Ana Lúcia Torre, excelente!), sua madrasta, ao desespero. Glorita almeja figurar entre os colunáveis do Rio de Janeiro e tem verdadeira obsessão por Isabel Becker. Dona de uma boutique, na qual trabalha Regina (Ângela Leal), grande amiga de Xepa, Glorita costuma usar as roupas de sua loja e devolvê-las para que sejam vendidas às parcas madames que frequentam o estabelecimento. A pobre Rosália, enfim, continuará tão pobre quanto sempre fora.

Para bancar a viagem de lua-de-mel, Heitor entrará em dívidas e assinará diversas promissórias. É a forma que ele encontra de manter o status que aparenta; homem de classe que é e fazendo jus à boa fama que conquistou como diretor do escritório de advocacia mantido pelo pai. O dinheiro que conseguira levantar, no entanto, não é suficiente para bancar a festa de casamento. Enquanto busca um jeito de impedir Xepa de participar da recepção (o que já fizera anteriormente no noivado, onde deixou a feirante restrita à cozinha), Glorita faz uso do dinheiro que a feirante consegue vendendo doces para fora para promover a festa. O matrimônio, entretanto, é ameaçado por Daniel. Trabalhando como fotógrafo numa revista de fotonovelas, o jovem consegue se tornar diretor da editora Becker, onde assume a revista Passarela e conquista a confiança de Joice (Marlene Figueiró), profissional experiente na redação, enfrentando a oposição de Ivan, principalmente após seu envolvimento com Heloísa. Indo à igreja, Daniel intima Rosália, mas é impedido por Regina, a esta altura trabalhando como atriz e apaixonada por Otávio, de promover um escândalo maior. Também Xepa, por pouco, não causa um grande burburinho. Ela quase não participa da cerimônia, uma vez que Glorita lhe dá bebida com sonífero, a qual Xepa não bebe porque é impedida por Cleonice (Marina Miranda), sua amiga que trabalha na casa de grã-finos.

Casada, Rosália se afasta cada vez mais da mãe, a quem passa a visitar apenas uma vez por semana, esquecendo-se das promessas de tirá-la do meio em que vivia. Pouco depois, se descobre grávida. Completamente apaixonado pela esposa, e ansioso pela chegada do bebê, Heitor simula o roubo de um valioso colar, aplicando um golpe em sua seguradora. Rosália encontra a joia em meio aos pertences do marido, ao mesmo tempo em que descobre que Heitor e o pai desviaram uma grande quantia das empresas de Henrique Becker. Decidida a ir embora do apartamento de Glorita, Rosália telefona para o marido, que, desesperado, parte em disparada ao seu encontro, sofrendo um acidente de carro que lhe tira a vida. Logo em seguida, Raul é preso, e Rosália, sentindo-se culpada, decide permanecer no apartamento de Glorita, que irá fazer de tudo para afastar Xepa da neta, considerando sua presença prejudicial à menina, Maria Carolina, cujo nascimento transfere a ação da novela para 1976.

Neste período, Otávio passa a trabalhar como bancário, deixando para trás a mansão dos pais e indo morar no subúrbio com um senhor aposentado. E passa a atuar como diretor de um texto teatral de Edson, patrocinado por Helena e Regina. O filho de Xepa se decepciona com a carreira literária, após descobrir que grande parte do sucesso de vendas de seus livros, vinha do dinheiro de Xepa, que adquiriu um grande número de publicações. A novela se encaminha para o final quando a ação tem um novo salto e chega aos dias atuais; ou melhor, em 1977. Rosália passa a atuar como modelo fotográfica, sustentando Glorita e Gisa, com este emprego conquistado por Daniel; agora, um importante homem dentro da editora Becker. Edson consegue sucesso com sua peça de teatro, inspirada na vida de Dona Xepa, que recebe uma homenagem em pleno palco. E termina feliz ao lado da neta, Maria Carolina.

A imprensa da época resumira o perfil da feirante da seguinte forma: “Dona Xepa é representante de uma classe menos privilegiada que chega a sacrifícios incomensuráveis para que os filhos estudem e cheguem a posições de destaque dentro da sociedade”. E Gilberto Braga completou: “Até que ponto os filhos que não pediram esses sacrifícios ficam implicados em retribuir material e afetivamente o que lhes foi dado? E os pais, que tanto deram de si, não cobrarão essa dívida, no futuro?”. O Canal Viva poderia nos conceder a chance de ver, ou rever, a novela, e saber se a trama foi feliz em sua abordagem. Por Xepa, por Yara Côrtes e por nós... #ReprisaViva!

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